sábado, 16 de março de 2013

Hospital Termal de Caldas(Portugal)mais uma vez sem termas

 Publicado a 16 de Março de 2013 .
 Mais uma vez o Hospital Termal é notícia pelas piores razões Cerca de três meses depois de terem sido reiniciados os tratamentos de balneoterapia no Hospital Termal, as termas foram de novo encerradas, a 6 de Março, depois das análises periódicas realizadas à água, pelo laboratório do Instituto Superior Técnico, terem detectado um número superior ao normal da bactéria Legionella não pneumophila.
Embora sejam realizadas análises bacteriológicas semanalmente, só de três em três meses é que são feitas pesquisas de Legionella não pneumophila e pneumophila, pelo que estas foram as primeiras a ser realizadas desde a abertura em Janeiro.
Em 2012 os tratamentos de balneoterapia foram suspensos por duas vezes, em Janeiro e em Junho. Da última vez que encerrou prolongou-se até ao início deste ano porque, segundo Carlos Sá, depois da Legionella ter desaparecido, as análises detectaram organismos mesófilos em quantidades superiores ao mínimo permitido.
A intervenção realizada, no entanto, não foi suficiente para evitar um novo encerramento por contaminação. Neste momento os serviços técnicos do CHO estão a proceder ao despiste da origem potencial da contaminação através de análises sectoriais e ensaios.
Para além disso, foram reforçados os procedimentos de desinfecção das tubagens de adução e distribuição da água mineral. Segundo Carlos Sá, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Oeste, a contaminação foi detectada em vários locais de colheita do balneário termal e no furo JK1, o que quer dizer que está disseminada na rede de tubagens de adução.
“Pelo facto de se tratar de contaminação por Legionella spp, espécie de origem aérea, a contaminação não terá origem na água subterrânea”, explicou à Gazeta das Caldas. Quanto à estirpe de maior índice de perigosidade, a Legionella pneumophila, não foi detectada. Esta contaminação, recorrente, por uma espécie de origem aérea, deverá decorrer do facto do Hospital Termal não possuir um depósito de armazenamento de água mineral natural que permita fazer face aos caudais de pico de consumo e à estabilização das pressões na rede de tubagens.
“A ausência de um depósito de armazenamento de água mineral natural e dos sistemas associados origina subpressões na rede e a consequente entrada de ar na mesma aquando da abertura de várias torneiras em simultâneo”, referiu o responsável. Segundo Carlos Sá, a necessidade da instalação de um depósito de armazenamento de água mineral natural foi identificada em 2002 “com o Conselho de Administração liderado pelo Dr. Vasco Trancoso, numa altura em que não havia os constrangimentos financeiros atuais” e só foi adjudicada a sua aquisição em 2008 “para ser anulada, ainda nesse ano, pelo mesmo presidente do Conselho de Administração”. Carlos Sá refere que “a existência deste depósito colmataria parte dos problemas sistemáticos e recorrentes que se têm vindo a verificar”.
Depósito de água evitaria novas contaminações áreas O JK1 foi o furo ligado ao Hospital Termal no final do ano passado e é o único que está a abastecer esta unidade O Hospital Termal reabriu a 2 de Janeiro, depois de ter sido feita a ligação de um outro furo de captação de água termal, o Jk2. A ligação deste furo ficou concluída no final de Novembro de 2012 e foram depois realizadas as três análises consecutivas, obrigatórias, com resultados negativos da presença de bactérias proibidas, possibilitando o reinício da actividade termal. Na altura Carlos Sá referia que com mais um furo era possível prevenir futuras necessidades de suspender a actividade.
No entanto, o investimento realizado, de cerca de 10 mil euros, não será o suficiente para garantir uma menor probabilidade de contaminação das águas termais. Embora estejam fisicamente ligados ao Hospital Termal por tubagens em PEAD (Polietileno de Alta Densidade), dois furos (as captações JK1 e AC2), este último “encontra-se em reparação e reabilitação”.
 Quer isto dizer que o furo AC2 não foi utilizado desde a reabertura do Hospital Termal em Janeiro de 2013. A ligação do furo JK1 ao Hospital Termal, intervenção realizada no final do ano passado, foi realizada através da segunda tubagem de adução de água mineral, já existente, do furo AC2, em PEAD. O furo AC2 dispunha de duas tubagens em PEAD para abastecimento do balneário termal, construídas em 2002, e uma dessas tubagens, que passava junto ao furo JK1, foi aproveitada para permitir o abastecimento de água do Hospital Termal a partir deste furo.
 Contrariamente ao que tem sido referido por alguns responsáveis, os serviços técnicos do CHO garantem que a utilização de aço inox nos tubos, em alternativa ao PEAD em nada contribui para qualquer desinfecção da água. “A aplicação da tubagem em PEAD em 2002, desde o furo AC2 até ao Hospital Termal, foi aprovada pela administração da altura, tendo sido mantida até à data, uma vez que a água mineral natural na sua chegada ao Hospital Termal, apresentava resultados microbiológicos compatíveis com os requisitos legais”, adiantou Carlos Sá. Em 15 anos as termas caldenses fecharam dez vezes O recurso a aço inox “implicaria a substituição de toda a tubagem existente em PEAD entre o furo JK1 e o Hospital Termal, por tubagem em aço inox do tipo AISI 316 L, atendendo ao elevado poder corrosivo da água mineral”.
 Seria também necessário construir um sistema de tubagens para abastecimento e injecção de vapor, em aço inox, para desinfecção da tubagem de adução da água mineral, desde a central de produção de vapor, mais afastada, até aos vários pontos de injecção ao longo da tubagem entre o Hospital Termal e o furo JK1. Existe um projecto para novas aduções e a criação de uma central de abastecimento e controlo das águas termais, realizado em 2005, que prevê um investimento de cerca de 150 mil euros, quer permitiria dar mais garantias à qualidade das águas, mas este nunca avançou.
Desde 2001 que foram feitas limpezas de outros furos de captação, mas nunca chegaram a ser ligados ao sistema de abastecimento do Hospital Termal. Dois destes furos foram desactivados em 1998 na sequência dos problemas com a pseudomona que levaram ao encerramento do balneário termal durante três anos. Desde essa altura apenas um furo abastecia as termas caldenses. Legionella em 20% de amostras de água em Portugal O estudo “Prevalência de Legionella nos sistemas de água”, publicado na última edição do boletim do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, revelou que 20% das cerca de mil amostras de água provenientes de sistemas artificiais analisadas laboratorialmente, revelaram a presença desta bactéria, responsável pela Doença dos Legionários.
Este estudo vem desmentir as constantes afirmações de alguns responsáveis locais, nomeadamente do presidente da Câmara das Caldas, que tem referido insistentemente nos órgãos de comunicação social nacionais que a Legionella só aparece nas Caldas. Segundo o estudo, divulgado pela agência Lusa, entre 2004 e 2007 foram confirmados 242 casos da doença em Portugal, uma pneumonia grave, cuja infecção se transmite por via respiratória, através da inalação de gotículas de água ou por aspiração de água contaminada.
O estudo analisou 975 amostras provenientes de água para consumo humano (nomeadamente chuveiros), águas termais, águas industriais, de torres de refrigeração e de jacuzzi). Das 492 amostras de água de consumo humano, 138 (28%) eram positivas para a Legionella, enquanto das 144 provenientes das águas termais, nove (6,3%) deram resultado positivo Das amostras de água analisadas entre Janeiro de 2010 e Junho do ano passado, 192 estavam contaminadas com Legionella. Doze das 115 amostras de águas industriais revelaram a presença da bactéria, enquanto das 224 das águas de torres de refrigeração, 33 foram positivas (14,7%). Em relação aos jacuzzis, apenas foram analisadas oito amostras, tendo três delas (37,5%) obtido resultado positivo.
À Lusa, Raquel Rodrigues, do Departamento de Saúde Ambiental do INSA e uma das autoras do estudo, considera que, perante estes resultados, “faz todo o sentido a preocupação que as autoridades de saúde dão a esta bactéria”. O estudo chama a atenção para o facto de, “com excepção das águas termais e dos sistemas de refrigeração em edifícios, não existe legislação específica que obrigue à pesquisa de Legionella”. Os seus autores defendem a realização de análises obrigatórias, tal como acontece nas termas, em “determinados edifícios ou locais considerados de maior risco, como lares de idosos, hospitais e outras instituições que prestam cuidados de saúde”. “Isto está a acontecer demasiadas vezes” Reacções Assembleia Municipal vai ter reunião extraordinária para discutir termas caldenses PSD tomou dianteira A Assembleia Municipal das Caldas vai reunir extraordinariamente na próxima terça-feira, 19 de Março, para discutir exclusivamente o Hospital Termal. A proposta para a convocação desta reunião extraordinária foi feita pelo PSD caldense que quer tomar uma posição conjunta com todos os partidos, em defesa do Hospital Termal. Em nome do PSD das Caldas, Tinta Ferreira manifestou uma grande “insatisfação e impaciência” por mais este encerramento das Termas. Na sua opinião, isso resulta da falta de investimento ao nível das condutas, das desinfecções e das captações. “Nós sabemos que estas situações podem acontecer, mas no caso das Caldas estão a acontecer demasiadas vezes”, afirmou. O também vice-presidente da Câmara entende que o investimento a fazer nestas áreas seria rentabilizado porque evitaria que as termas fechassem. Por isso, recomenda ao Ministério da Saúde que faça os investimentos necessárias para a reabertura do Hospital Termal, mesmo que tenha que invocar o interesse público para fazer mais rapidamente as adjudicações necessárias. Enquanto autarca, Tinta Ferreira lembrou que o município já se mostrou disponível para comparticipar financeiramente uma candidatura a fundos comunitários para reabilitar os Pavilhões do Parque e o Hospital Termal. “Eu sei que no passado, infelizmente, tivemos outros governos que não olharam pelo Hospital Termal, mas o governo do PSD deveria fazer de forma diferente. Embora pertencendo ao mesmo partido que está no governo não podemos ficar calados e defender, acima de tudo, os interesses das Caldas da Rainha e dos utentes”, afirmou. “Esta situação não é compreensível” Maria da Conceição critica Ministério da Saúde A deputada caldense do PSD, Maria Conceição Pereira, apresentou um requerimento para o Ministério da Saúde em que refere que “esta situação não é compreensível, nem aceite pela população que não entende a razão destes constantes encerramentos”. A deputada e vereadora na Câmara das Caldas solicitou também, com carácter de urgência, reuniões com o Conselho de Administração do CHO e com o secretário de Estado da Saúde, a quem está entregue este dossier. No requerimento a deputada pergunta que obras prevê o Ministério da Saúde realizar no Hospital Termal “para solucionar, de uma forma definitiva, os problemas que têm afectado esta unidade termal”. Maria Conceição Pereira questiona ainda se existe algum plano para a gestão do Hospital Termal e para o seu Património, e se o Ministério da Saúde pretende manter esta unidade no âmbito do Centro Hospital do Oeste. “Ao longo dos tempos, diversas propostas foram equacionadas, com a aceitação dos órgãos autárquicos, que sempre se disponibilizaram para ser encontrada uma solução que reabilite e modernize, de acordo com as actuais exigências”, refere. A deputada recorda que a Câmara das Caldas patrocinou um estudo realizado pelo ISCTE-IUL visando um modelo de gestão autónoma, cujo relatório final foi apresentado em Maio de 2011. “Mais recentemente, a Câmara Municipal tem apoiado financeiramente o custo das análises exigíveis para a manutenção dos tratamentos no Hospital Termal Rainha D. Leonor”, escreve ainda no requerimento. Por isso, lamenta que, até à data, nenhuma proposta concreta foi apresentada. “Não é aceitável a ausência de uma resposta por parte do Ministério da Saúde pois, há cerca de um ano no dia do Feriado Municipal, foi prometido que seria encontrada uma solução rápida para a situação do Hospital Termal Rainha D. Leonor”, conclui. O presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, também é contundente nas críticas, dizendo que “a bactéria está na competência do Ministério da Saúde e, se calhar, está mais nas pessoas do que nos canos”. Na sua opinião, “há negligência e culpa” nesta situação “porque há quem queira fechar o Hospital Termal”. O autarca disse, à Gazeta das Caldas quem tem a certeza que há pessoas no Ministério da Saúde que querem o Hospital Termal encerrado. Administração do CHO deve resolver ou demitir-se “São necessárias medidas concretas e imediatas” “Ou esta administração efectua as obras necessárias para colocar o Hospital Termal em funcionamento, ou então que se demita e seja nomeada uma administração com capacidade e vontade para lutar pelos interesses dos caldenses”, disse à Gazeta das Caldas a presidente do PS caldense, Catarina Paramos. A responsável considera que o Conselho de Administração do CHO tem a obrigação de esclarecer quais são as necessidades objectivas para que este problema seja resolvido, de forma a evitar estas consecutivas contaminações. “Não podemos continuar só à espera de soluções para o relançamento do termalismo, é necessário fazer o que for preciso para assegurar a qualidade do serviço prestado no Hospital Termal”, afirma, acrescentando que o mínimo que se pode esperar dos responsáveis do CHO é que consigam manter as termas a funcionar normalmente. Catarina Paramos considera “criminoso” a falta de respostas do Ministério da Saúde para o Hospital Termal das Caldas da Rainha e exige a tomada de “medidas concretas e imediatas” para evitar os sucessivos encerramentos, que têm contribuído, não só para a diminuição do número de aquistas, como para um decréscimo acentuado de receitas. “Já foram feitos estudos, já vários especialistas se pronunciaram, não há qualquer razão para que não se efectuem as obras necessárias para garantir a qualidade da água termal e para prevenir estes encerramentos”, disse. A responsável acrescenta que é importante verificar que a autarquia se encontra disponível para contribuir para a resolução deste impasse e destaca que quem está no poder “não tem só o dever moral de exigir medidas concretas” mas a obrigação de garantir que o Hospital Termal se mantém na tutela do Ministério da Saúde, em condições de funcionamento. Em ano de eleições autárquicas, e perante as posições que se têm ouvido recentemente por parte do partido que preside ao poder local há mais de 30 anos, Catarina Paramos espera que isso possa trazer boas notícias para as Caldas. “O recente empenho por parte de certos responsáveis, talvez preocupados com futuros resultados eleitorais, poderá contribuir para uma resolução mais rápida destes problemas”, conclui. CDS não tem informação suficiente “Só vou pronunciar-me depois de me informar melhor” Antes de se pronunciar publicamente sobre mais este encerramento, o deputado Manuel Isaac (CDS) está à espera de explicações do Ministério da Saúde para apurar o que aconteceu desta vez e de quem são as responsabilidades. “Só vou pronunciar-me sobre esse assunto depois de me informar melhor”, referiu. Manuel Isaac agendou para quarta-feira passada, 13 de Março, uma reunião com o Secretário de Estado do Turismo, em que participará o presidente da Câmara das Caldas, para tentar encontrar soluções para o relançamento do termalismo nas Caldas. O objectivo é encontrar alternativas para o financiamento comunitário para a reabilitação dos Pavilhões do Parque e do Hospital Termal. BE quer investigação do Ministério Público “Querem transformar o Hospital Termal numa estância balnear” Para Paulo Freitas, responsável do Bloco de Esquerda nas Caldas, este encerramento não foi uma surpresa, porque acredita que “faz parte de uma estratégia, definida há vários meses, em que a Administração Regional de Saúde Lisboa quer transformar o Hospital Termal numa estância balnear”. O bloquista entende que o objectivo é fazer com que o Hospital Termal encerre de vez para se avançar com a sua concessão ou privatização. Na sua opinião, houve incúria na última intervenção realizada para reabrir as termas. Paulo Freitas acredita que essa intervenção foi feita à pressa para que o Hospital Termal fosse reaberto antes da realização da vigília, a 5 de Janeiro, promovida pela Comissão de Utentes “Juntos pelo Nosso Hospital”. “Fizeram uma obra que permitiu a sua reabertura, mas parece-nos feita à pressa, de má qualidade e atamancada”, afirmou. O BE quer que seja realizada uma auditoria técnica externa à qualidade das águas do Hospital Termal e entende que se deve recorrer ao Ministério Público, apresentando queixa de incúria ou de crime ambiental. Essa questão será levantada pelo Bloco na próxima reunião da Assembleia. Comunistas estão perplexos e indignados “Essa treta das bactérias não lembra ao diabo” Vítor Fernandes, do PCP das Caldas, manifestou a sua perplexidade e indignação por mais este encerramento do Hospital Termal. “Essa treta das bactérias não lembra ao diabo”, disse ao nosso jornal, acrescentando que “parece de propósito para que se encerre o Hospital Termal para o entregar aos privados”. Na sua opinião, este só foi reaberto por causa da vigília de 5 de Janeiro e “agora voltou a encerrar porque passou a contestação que existia na altura”. O PCP vai realizar em breve uma conferência de imprensa, sobre a Saúde em geral, onde irá tomar uma posição pública sobre o Hospital Termal. Os comunistas reiteram que querem manter o Hospital Termal e todo o seu património num projecto único, mantendo também as termas no Serviço Nacional de Saúde. “Foram precárias as soluções até agora encontradas” Comissão de Utentes critica “desinvestimento” A Comissão de Utentes “Juntos pelo Nosso Hospital” terá reunido, de urgência, na passada quarta-feira, 13 de Março, para discutir mais este encerramento e eventuais iniciativas de protesto. O porta-voz da comissão, António Curado, adiantou à Gazeta das Caldas que lamentam mais este encerramento da Hidrologia do Hospital Termal “tão pouco tempo depois da sua reabertura, o que faz pressupor que foram precárias as soluções encontradas, nomeadamente a nível das canalizações da água termal”. Na sua opinião, estes encerramentos sucessivos afectam a reputação da unidade termal, com consequências futuras gravosas para o termalismo caldense. “Há um claro desinvestimento da administração hospitalar e do próprio Ministério da Saúde no Hospital Termal e no termalismo”, disse. A comissão exige à administração hospitalar “um maior empenhamento e uma participação mais activa na solução dos problemas imediatos do termalismo, não permitindo este arrastamento sucessivo para a destruição da actividade termal em Caldas da Rainha”. Pedro Antunes pantunes@gazetacaldas.com Fátima Ferreira fferreira@gazetacal

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