Novas tecnologias contra a escassez de água no mundo
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por Carla Legner
A
água é um item muito importante para a sobrevivência humana, mas muitas pessoas
ainda não têm acesso a ela, tanto para consumo quanto para higiene. Segundo a
Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população
mundial tem acesso à água potável. A grande desigualdade social, o mau uso dos
recursos naturais e o desperdício agravam ainda mais o problema de escassez de
água no mundo.
No
Brasil, regiões como a do nordeste sofrem todos os anos pela falta desse item
tão importante. Famílias não têm água para beber, plantações e pastagens secam
e animais morrem constantemente. Mesmo sabendo que o planeta é constituído por
dois terços de água, essa quantidade não é suficiente para abastecer toda a
população. O grande problema é que quase toda a água do mundo está constituída
em forma de gelo ou água salgada, não podendo ser consumida de imediato.
Uma
solução que vem crescendo bastante nos últimos anos, é a dessalinização. Um
processo fisioquímico que retira o sal da água, tornando-a doce e ideal para o
consumo. O método mais comum utilizado nesse processo funciona como uma
destilação em grande escala, a água salgada é colocada em um tanque com fundo
preto e teto de vidro transparente que permite que o calor do sol evapore a
água. O vapor passa por um resfriamento e se converte em líquido por
condensação tornando-se água no estado puro. Por fim será recolhida por
canaletas e então armazenada em outro tanque para consumo.
Outro
processo bastante utilizado é conhecido como osmose reversa. Diferentemente da
osmose natural, onde a passagem de uma substância pura para uma solução é feita
através de uma membrana semipermeável, como o próprio nome diz, a osmose
reversa ocorre ao contrário, da solução para água pura. O processo consiste em
realizar a passagem da água salgada por membranas de fibra oca. Estas fibras
contêm poros microscópicos e todo o sal e impurezas presentes na água ficam
retidas nestes pequenos poros.
Atualmente
existe no país um programa do Governo Federal que prevê a dessalinização de
águas salobras em algumas regiões brasileiras, fornecendo água potável para
famílias que constantemente sofrem com a seca. De acordo com Henrique Veiga,
analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente, o projeto Água Doce atende
hoje 150 comunidades que correspondem a aproximadamente 190 mil pessoas em todo
o nordeste e Minas Gerais. “Até o final de 2014 a nossa meta é 1200 sistemas e
500 mil pessoas atendidas”, completa Henrique.
O
projeto
Formulado
em 2003, o projeto Água Doce é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente,
pela Secretaria de Recursos Hídricos e conta com parcerias de empresas,
universidades e instituições. Segundo Henrique, no início a participação de
todos esses parceiros foi fundamental para fazer uma reflexão da utilização dos
sistemas de dessalinização como alternativa ao acesso a água. “Na época a gente
observou que muitos dos dessalinizadores que haviam sido implantados para esse
tipo de serviço estavam parados e começamos a identificar a causa disso.
Primeiro, notamos que a gestão não estava sendo feita, ou seja, não havia
cuidados por parte dos gestores dos sistemas, pelos órgãos competentes e nem
pela comunidade. Já o outro problema era em questão do destino correto do
rejeito que é gerado nesse processo. A dessalinização gera um efluente salino
que era jogado no solo sem nenhum tipo de cuidado, então, identificados os
problemas, implantamos uma metodologia para resolver essas situações”, conta
Henrique.
Hoje
o programa conta com um componente bastante forte de gestão, além da equipe
técnica, existe a mobilização social que ensina a comunidade a trabalhar com a
parte de cuidados e gestão do sistema em si e consciência ambiental, mostrando
qual destino certo para os resíduos salinos. Para esses resíduos, são
utilizados tanques de contenção para que o rejeito fique confinado e evapore.
Henrique explica ainda, que em algumas comunidades já é acoplado o sistema
produtivo onde essa água é utilizada para irrigar uma planta que consegue
eliminar o sal, a mesma é utilizada como alimento para o rebanho dos caprinos,
ovinos e bovinos. “Assim a gente fecha o ciclo, garantimos água de qualidade
para a população com os cuidados ambientais necessários e temos controle social
com a participação da comunidade na gestão desses sistemas, dividindo a
responsabilidade com a prefeitura e o estado garantindo a sustentabilidade do
projeto”, completa.
Como
funciona
Em
quase 10 anos de programa, houve uma reestruturação, consolidação do sistema e
fortalecimento com parcerias. Hoje cada estado que participa tem um núcleo do
programa, normalmente dentro dos órgãos de recursos hídricos. Henrique explica
que a água vem de um poço tubular profundo, essa água é bombeada por um
reservatório, passa pelo dessalinizador e resulta na eficiência de 50% de água
potável, os outros 50% nada mais são do que o rejeito. Após esse processo a
água é distribuida através de um chafariz coletivo, ou seja, não vai direto a
torneira das pessoas. “A quantidade de água produzida depende da vazão do poço.
Um poço de 1000 litros, por exemplo, é bombeado aproximadamente 8 horas por dia
gerando 8000 mil litros de água, sendo apenas 50% aproveitado, em média temos
4000 litros de água por dia”, enfatiza.
A
distribuição é feita uma vez por dia. Cada família, coordenado por um fiscal da
própria comunidade, vai até o local e pega sua cota de água. É a própria
comunidade que cuida da limpeza, fiscalização, distribuição e cuidados em todo
o processo. “O programa é mais do que instalar sistemas, é um trabalho de
gestão, mobilização social, sustentabilidade e meio ambiente. A dessalinização
é um dos caminhos para ajudar a resolver a escassez de água, principalmente em
regiões de seca, mas assim como os países que sofrem com problemas com a neve,
acredito que é preciso criar uma metodologia para se antecipar a esse problema
com soluções para conviver com essa situação que ocorre todos os anos. Agir em
conjunto, criando e sustentando projetos como esses, implantando cisternas,
reutilizando a água podem ser um bom começo”, finaliza Henrique.
Outras
tecnologias
A
Dow Water & Process Solutions, empresa especializada em fornecer inovações
e soluções baseadas em tecnologias em muitas áreas, atualmente trabalha com
diversas técnicas e tratamentos avançados para ajudar no combate da escassez de
água, como dessalinização, reutilização e purificação de água residencial e
comercial, entre outros. De acordo com Felipe Pinto, gerente de marketing da
América Latina, a Dow há 50 anos tem se dedicado a fornecer inovações e
soluções para tornar a água do mar própria para consumo humano e industrial,
remover contaminantes no abastecimento dos municípios, purificar as águas para
as fábricas e residências, reduzir e recuperar o que é utilizado no
processamento industrial. Algumas das tecnologias usadas pela empresa são a
osmose reversa, para purificação de água na remoção de sais e outras impurezas
e resina de troca iônica, tratamento de água para a geração de vapor, além de
oferecer membranas de nano filtração, ultrafiltração, eletrodeionização.
“Para
água industrial, temos tecnologias de separação para produzir água ultrapura,
essencial para os processos de fabricação de componentes eletrônicos e
semicondutores para reduzir os desperdícios e melhorar a eficiência energética.
A dessalinização, que melhora a eficiência desses processos e outros
tratamentos de água em todo o mundo, facilitando o acesso de comunidades a uma
maior quantidade de água potável com custos reduzidos. E no caso de projetos
residenciais e comerciais trabalhamos com a purificação da água da torneira,
com custo acessível, menos desperdício e maior eficiência energética, indicadas
para residências, restaurantes, hotéis, lava rápidos, entre outras aplicações
comerciais”, ressalta Felipe.
O
gerente explica que na parte de filtração, as membranas de ultrafiltração da Dow
são utilizadas em substituição aos processos físico-químicos de tratamento de
água, pois além de garantir boa qualidade da água, também causam um menor
impacto ao meio ambiente e custos de implantação e operação competitivos. “O
consumo de produtos químicos é bastante reduzido uma vez que as membranas em
geral dispensam a etapa de floculação e também agem como uma barreira física à
passagem de microrganismos minimizando o consumo de cloro e outros agentes
desinfetantes. A eficiência de concentração de sólidos da UF reduz
significativamente o volume de efluentes em comparação ao descarte de lodo de
decantadores e água de retro lavagem dos filtros de areia das ETAs
convencionais”, completa.
Para
os próximos meses a empresa já adianta uma novidade: A membrana Filmtec ECO. O
produto oferece tecnologia de ponta para a dessalinização e reúso da água e tem
como foco atender às necessidades sustentáveis do mercado. As novas membranas
garantem baixos custos, alto desempenho e consciência ambiental ao substituir os
elementos convencionais da osmose reversa por membranas Filmtec ECO. “A água é
o recurso natural mais importante e, por isso, precisa estar acessível para
todos. Com as tecnologias Dow, governos e comunidades conseguem acesso à água
potável e, o mais importante, com custos reduzidos”, explica Felipe.
Projetado
pela H2Life Brasil, empresa especializada no desenvolvimento de sistemas de
purificação de água, outro produto que ganha destaque é o Life Tube, produto
capaz de purificar e desinfetar, em apenas três segundos, água poluída ou
contaminada sem a adição de nenhum reagente químico. Semelhante a um canudo de
refrigerante é portátil e compacto. Com apenas 36 gramas, funciona por sucção
oral e é ideal para o uso militar em lugares remotos ou em situação de
emergência e tem capacidade para purificar até 200 litros de água.
A
inovação apresentada funciona em três etapas: pré – filtração, filtração e
purificação. Na primeira fase são removidas da água as partículas maiores, como
areia, barro, ferrugem e outras impurezas sólidas. Em seguida, são removidas
substâncias químicas, como cloro, pesticidas, resíduos de remédios e compostos
orgânicos, melhorando o gosto, a cor e o odor da água. Na última fase, um
conjunto de filtros com furos de 0,14 micron tem condições de reter 99,99% das
bactérias, vírus, protozoários, algas e micróbios. Tudo isso é feito sem que a
água perca os sais minerais, que são fundamentais para a saúde humana.
O
Life Tube também pode ser utilizado por quem faz trilhas em matas ou montanha e
atender pessoas em situações emergenciais. Por ser leve e compacto, o aparelho
ocupa pouco espaço e pode fazer parte tanto dos equipamentos de uso pessoal dos
soldados, quanto ser estocado em embarcações, aviões e acampamentos, no caso de
aplicação militar, além de ser projetado para sempre boiar na água,
dificultando sua perda, é ideal para o transporte de água mineral. Outro
produto desenvolvido, produzido e patenteado pela empresa, com grande potencial
de uso militar é o H2Life, uma máquina que purifica água imprópria para o
consumo. Com capacidade de purificar até 6 mil litros por hora, o equipamento
pode ser útil em acampamentos e também no atendimento a emergências ou
catástrofes.
Pequenos
gestos
Um
simples filtro, o reúso de água e até grandes soluções inovadoras podem mudar a
vida de milhares pessoas que ainda sofrem com a falta de água potável e evitar
que tantas outras tenham o mesmo problema. Exemplo disso, é o do ex-surfista
americano Jon Rose que, em suas viagens pelo mundo conheceu muitos lugares que
precisavam de ajuda. Através da ONG Waves for Water, leva filtros de água
simples e de fácil manuseio para comunidades carentes ou regiões afetadas por
grandes catástrofes pelo mundo. Jon já visitou diversos países com seu projeto,
inclusive o Brasil.
Semelhante
ao projeto do americano, o jogador de futebol Neymar, através de seu instituto,
lançou o programa Sede de Vencer, que vai levar filtros portáteis a moradores
das cinco cidades que vão receber os jogos do Brasil: Brasília, Salvador,
Fortaleza, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. De acordo com a instituição a ideia
é beneficiar 85 mil brasileiros. O uso do sistema é simples e eficaz, basta
acoplar a mangueira ao Kit em um balde e conectá-lo ao filtro que pode ser
utilizado também com torneira. Uma seringa é responsável por fazer a
retrolavagem nos sistemas.
A
Hubert, empresa especializada em condomínios, gestão patrimonial e meio
ambiente, também tem soluções para evitar o desperdício de água. A fim de
reduzir os consumos nos condomínios e pela justiça social que alega que não é
justo pagar pelo seu vizinho que gasta água o dia inteiro, implementa em seus
clientes a medição individual. De acordo com Gislaine Matias, responsável pela
gestão ambiental da empresa, o processo funciona com a individualização. “O
condomínio solicita a Hubert uma proposta para a individualização. Temos três
empresas parceiras que fazem todo um estudo para implantação do projeto. Feita
a vistoria o assunto vai para assembléia, se aprovado começa o processo de
instalação e acompanhamento dos consumos, caso uma unidade esteja consumindo
muito ou esteja com vazamento, orientamos o morador com dicas de consumo ou
alertamos sobre possíveis vazamentos em sua unidade”, explica.
Outro
sistema aplicado em edifícios pela Hubert é o de aproveitamento de água através
da captação, filtragem e armazenamento. A captação é feita através das calhas
dos telhados dos prédios, porém Gislaine ressalta que áreas com circulação de
pessoas, animais ou máquinas não podem ser utilizadas por existir riscos de
contaminação. A filtragem é feita por dispositivos instalados tanto nos tubos
como na entrada da cisterna. Atualmente existem vários modelos de filtros
disponíveis no mercado de acordo com a necessidade do cliente. A água captada
pelos telhados é direcionada para a cisterna, sendo filtrada antes de entrar na
mesma. Da cisterna, essa água é direcionada para os pontos de consumo.
O
sistema para aproveitamento de água de mina/poço é um pouco mais complexo, pois
pode exigir um pequeno sistema de tratamento de água e análises constantes de
qualidade, ressalta Gislaine. A empresa tem um projeto de reaproveitamento de
água de poço nos condomínios onde é feita a manutenção periódica dos
equipamentos, esta água pode ser reutilizada para serviços de limpeza em geral,
irrigação de jardim/horta, lavagem de roupas e descarga de vaso sanitário. “A
água pode ser utilizada também em piscina, espelhos d’água e fontes, nesses
casos deve ser considerada a aplicação de cloro, conforme orientação de empresa
especializada. Não podemos esquecer da importância de fazer uma análise para
verificação da qualidade da água”, completa Gislaine.
Contato
das empresas:
Dow
Water & Process Solutions: www.dow.com
H2Life
Brasil: www.h2life.com.br
Hubert:
www.hubert.com.br
Projeto
Água Doce: www.mma.gov.br/agua/agua-doce
Sede
de Vencer: www.sededevencer.com
Waves for Water: www.wavesforwater.org
REVISTA
MEIO FILTRANTE
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